terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Atividades do PL no Colégio Estadual Bom Conselho


Definição da Instituição:

A terceira etapa do projeto Ponto de Leitura aconteceu no Colégio Estadual Bom Conselho, localizado no bairro de Bebedouro. Bebedouro é um dos bairros mais antigos de Maceió, local em que se realizava grandes festas, encontros políticos e onde havia um comércio em larga expansão. Passa pelo bairro o trem que vem de Fernão Velho e chega até o Centro da cidade. Era, pois, um bairro da elite, que construíam seus casarões naquela localidade. Hoje em dia, os ricos saíram do bairro, deixando para trás muitos prédios de referência para se conhecer a história de Alagoas, além de haver o Parque Municipal – local em que se está preservada um pouco de nossa mata. O colégio Bom Conselho ocupa um desses prédios antigos. Antigamente o Colégio era conhecido como “Asilo das Órfãs” e por lá se formavam muitas normalistas. Atualmente, o prédio é dividido em três partes: uma onde ficam as freiras que apóiam a instituição, servindo essa parte como um convento, sendo a parte mais bem conservada do prédio; uma segunda parte que serve como colégio para crianças e jovens de 10 à 18 anos; e a terceira parte que serve como creche-escola para crianças de 2 à 6 anos.

Definição das atividades:

As atividades do Ponto de Leitura se concentraram na parte do Colégio de Ensino fundamental. Constatamos que apesar de estruturalmente o Colégio está decadente – salas sem ventilador, sem quadro negro, sujas, sem carteiras, etc, humanamente vimos que ali fervilhava de vida e entusiasmo, seja das professoras e coordenadoras que nos receberam, seja dos alunos com os quais convivemos.

Nilton Resende e Vera Marinho foram responsáveis pelas oficinas propostas para o Colégio. Nilton ficou responsável por fazer trabalhos em busca de um incentivo à leitura, enquanto Vera trabalhou a produção textual.


Relatório de atividades:

Nas duas primeiras semanas, o trabalho foi dedicado ao 5º ano (só há uma turma de 5º ano no Colégio) que, segundo nos apontou a coordenação, era uma turma que estava com dificuldades com a leitura e a escrita.

O 5º ano foi dividido em duas turmas: uma parte ficava na oficina com o professor Nilton, e a outra parte com a professora Vera.

Na oficina, Nilton usou varias estratégias didáticas para conquistar a atenção dos alunos. Pediu para os alunos escolherem um conto que seria lido para eles, e questionou o motivo da escolha do conto que se passa no cemitério (“Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Telles). Os alunos alegavam que história de cemitério causa medo, e sentir medo é bom. Com isso conversou-se um pouco sobre a função do medo para a manutenção da vida. O conto foi lido e posteriormente o professor Nilton apresentou uma outra forma de leitura, que não era escrita, e conversou sobre as várias formas de se ler o mundo, a partir da percepção das expressões das pessoas, do tempo, do clima... Projetou assim, uma pintura no telão intitulada “Uma dança para a música do tempo” do francês Nicolas Poussin. A tela mostra quatro pessoas em circulo dançando enquanto o senhor com asas (representando o tempo) toca harpa, uma criança segura uma ampulheta e outra faz bolhas de sabão. No céu aparece uma carruagem por entre as nuvens com o deus Apolo, sendo precedido por Aurora, além de haver no quadro outro elementos, como uma estátua de Jano com dois rostos, etc.

Para apresentar o quadro, Nilton colocou uma música de Vivaldi (“A caça”). Durante a execução da música, o professor vai ritmicamente, aproximando e afastando detalhes do quadro para que os expectadores possam captá-los. Ao final da música se discute o que se viu e o que cada desenho significa, lendo assim, o quadro que foi apresentado. O quadro representa o tempo, e segundo as crianças, o tempo nos faz envelhecer, e por isso precisamos fazer tudo antes que o tempo passe. Aproveitar cada minuto para realizar desejos, porém, para conseguir o que queremos precisamos trabalhar, e só trabalhando chegamos ao prazer.

Na oficina de Vera, as crianças assistiram desenhos em curtas-metragens na televisão, discutiram sobre o filme, e ficaram incumbidas de reproduzir em texto o que viram. Para isso foram utilizadas cartolinas coloridas, lápis de cor, canetas, papel, cola, tesoura e etc. O texto foi produzido individualmente, e depois entregues à Vera.

No segundo dia, a turma que estava com o professor Nilton ficou com a professora Vera e vice versa, para que todos pudessem usufruir de ambas as oficinas.

Ao final da primeira semana, muitos textos foram produzidos e surgiu certo entusiasmo com a leitura perceptível no interesse da turma em acessar a sala de leitura da escola.


Com a segunda semana de atividades demos continuidade às atividades com o 5º ano. Novamente a turma foi dividida em duas, ficando alunos nas duas oficinas.

Na oficina de Nilton, foi trabalhado um outro conto de Lygia Fagundes Telles, chamado “As formigas”. Tal conto é uma história de suspense que possui um final reticente. Como os alunos demonstraram curiosidade em saber o fim da história, o professor mostrou que o fim acabava de fato até onde ele contou, e que ficava a cargo de cada um, se fosse do interesse deles, dar continuidade a história. Dois clips musicais foram projetados para que os alunos vissem, ouvissem, e interpretassem a animação que o compunha. Os clipes são do compositor norte-americano, Moby.

Na oficina de Vera foi usado recurso de áudio para conversar sobre as formas de comunicação. Durante a oficina a música de Arnaldo Antunes, “Silêncio”, foi executada diversas vezes a pedido dos alunos. Posteriormente, cada um deles fez desenhos representando a música, isto é, os meios de comunicação.

Quando as turmas foram trocadas no segundo dia, um dos alunos que tinha ficado intrigado com o conto reticente de Lygia Fagundes Telles, trouxe uma versão do fim da história criada por ele mesmo, por escrito. Outros demonstraram que tinham lido ou ao menos folheado alguns livros da sala de leitura.

Foram distribuídos gibis e o livro de Lygia Fagundes Telles de Contos foi dado para o aluno que continuou o seu conto. Houve também, lanche todos os dias para os alunos participantes.



A terceira semana foi dedicada ao 6º ano, turma A.

As mesmas estratégias de divisão de turma e de didática dos professores foram utilizadas. Porém, com a diferença da reação das turmas que possibilitaram improvisos bem vindos.

Na oficina de Nilton, além do conto “As formigas” de Lygia Fagundes Telles, foi passados os clipes de animação do Moby. Apesar do clipe “Why does my heart feel sob bad?” ser cantado em inglês, a animação deu margem para muita interpretação por parte dos alunos. O clipe mostra um menino e seu cachorro que descem de sua casa na lua e saem andando pela terra tentando interagir com as pessoas, sem sucesso. No final do clipe, vários comentários foram feitos: que “o menino se sentiu triste”, que ele se sentia “vazio pela solidão”. Esses comentários possibilitaram uma conversa sobre discriminação, Bullying (violência na escola), exclusão e capacidade de construir laços de afetos com todos a nossa volta, independente de serem diferentes de nós ou não.

Na oficina de Vera, foi passado um vídeo e uma música que deu margem para a discussão sobre preconceitos e sobre padrões de beleza. Os alunos discutiram sobre racismo, sexismo e diferenças de classe social, além de outras formas de discriminação, construindo a partir disso, textos sobre como é destrutivo tratar mal as pessoas, e ser maltratado por elas.

Houve distribuição de gibis e lanche todos os dias para os alunos.